Safety in prescription of medicines from the perspective of senility
Fonte: Revista de Direito Médico e da Saúde – nº 26 – Anadem
Alessandra Cristina Rodrigues Rabello
Sumario: 1. Introdução. 2. Noções gerais sobre o contexto da prescrição de medicamentos no âmbito da senilidade. 3.Notas conclusivas. Referências bibliográficas.
Resumo: O presente trabalho analisa os efeitos da prescrição errônea de medicamentos em idosos. A temática se verifica imprescindível em virtude do envelhecimento global e acelerado da população, bem como a incidência de prescrições de medicamentos potencialmente inapropriados, que interagem com outros fatores e ocasionam eventos adversos que comprometem a qualidade de vida. Para tanto, utilizou-se referencial teórico a partir de buscas nas plataformas da Biblioteca Virtual em Saúde e SciELO. Foram selecionados cinco artigos a partir de revisões sistemáticas, dos quais três forampublicados nos anos de 2020 e 2021 e dois entre 2009 e 2013, tendo como base os descritores erro na prescrição de medicamentos, segurança dos pacientes idosos eefeitos prescrição errônea. Revela-se ser necessário um olhar mais acurado para essa população, cujo organismo sofre alterações significativas em função do processo natural de envelhecimento, que, somado a outros fatores, ocasionam eventos adversos, tais como quedas, riscos de acidente vascular cerebral e hipotermia, dentre outros. Dessa forma, evidenciou-se a importância de se buscar um olhar mais peculiar para a senilidade e se ofertaram sugestões para aumentar a segurança dos idosos, como acompanhamento efetivo; redução das prescrições nocivas, quando verificadas outras terapêuticas seguras; e treinamento de profissionais, como forma de se reduzir erros ao máximo possível, apresentando, assim, aspectos que viabilizam a busca por soluções urgentes.
Palavras-chave: Prescrição de medicamentos. Eventos adversos. Idosos. Segurança do paciente.
Abstract: The present work analyzes the effects of erroneous prescription of medicines in the elderly. The theme is essential due to the global and accelerated aging of the population, as well as the incidence of potentially inappropriate medication prescriptions, which interact with other factors and cause adverse events that compromise the quality of life. For that, a theoretical framework was used based on searches on the platforms of the Virtual Health Library and SciELO. Five articles were selected from systematic reviews, of which three were published in the years 2020 and 2021 and two between 2009 and 2013, based on the descriptors error in medication prescription, safety of elderly patients and effects of erroneous prescription. It turns out that a more accurate look at this population is necessary, whose body undergoes significant changes due to the natural aging process, which, in addition to other factors, cause adverse events, such as falls, risks of stroke and hypothermia, among others. in this way, the importance of seeking a more peculiar look at senility was highlighted and suggestions were offered to increase the safety of the elderly, such as effective monitoring; reduction of harmful prescriptions, when other safe therapies are verified; and training professionals, as a way to reduce errors as much as possible, thus presenting aspects that make the search for urgent solutions feasible.
Keywords: Medication prescription. Adverse events. Seniors. Patient safety.
1. INTRODUÇÃO
É inegável que a população global está envelhecendo, cenário antes vislumbrado apenas em países de primeiro mundo e favorecido pelos avanços tecnológicos e inovações na ciência, cujas técnicas modernas retardam o envelhecimento precoce e previnem enfermidades, dentre outros fatores. Assim, há que ter um olhar mais desvelado para a crescente população idosa, pois é sabido que são extremamente vulneráveis em função das alterações orgânicas próprias da senilidade. Nesse contexto, ao falarmos em segurança do paciente, busca-se reduzir a probabilidade de danos a um mínimo considerado aceitável dentro das políticas de segurança, o que implica implementar processos seguros para prática da assistência à saúde. Nesse ínterim, verifica-se que os erros e os eventos adversos com medicação ocorrem com frequência e podem ocasionar danos fatais. Em virtude de todo o exposto, indaga-se: quais os efeitos da prescrição errônea de medicamentos em idosos?
Assim, a presente pesquisa almeja evidenciar os riscos a que está submetida apopulação idosa em virtude de prescrições equivocadas ou situações análogas e a necessidade de se buscar meios para mudar essa realidade. O objetivo é identificar evidências partindo de revisão bibliográfica, com ênfase nos efeitos da prescrição incorreta de medicamentos em idosos, bem como a incidência dos potencialmente inapropriados. Para esse propósito, foram utilizados artigos da Biblioteca Virtual em Saúde e da SciELO, selecionados a partir de descritores, como: erro na prescrição de medicamentos, segurança dos pacientes idosos e efeitos prescrição errônea. Assim, o presente trabalho teve como metodologia a revisão bibliográfica com uma abordagem qualitativa, a partir de conteúdos de revisões sistemáticas de literatura e, como temática norteadora, a segurança da prescrição de medicamentos com fulcro na segurança dos idosos. Dos diversos artigos em idiomas distintos, foram incluídos e selecionados cinco em língua portuguesa, que datam de 2009, 2013, 2020 e 2021, conforme leitura de seus resumos e respectivas conclusões. Dessa forma, com base nos artigos selecionados, evidencia-se a relevância do tema, o que se faz com intuito de identificar as possíveis consequências de prescrição errônea de medicamentos e a incidência temerária dos medicamentos potencialmente inapropriados e de buscar melhorias para a segurança do paciente idoso.
2. NOÇÕES GERAIS SOBRE O CONTEXTO DA PRESCRIÇÃO DE MEDICAMENTOS NO ÂMBITO DA SENILIDADE
São notórios todos os avanços tecnológicos na seara da saúde. No entanto, não é possível um ambiente com risco zero de danos decorrentes de falhas operacionais e/ou humanas. Conforme Pedreira et al. (2013, p.430), a segurança do paciente ecoa alarme global, evidenciado principalmente após a obra “Errar é Humano: Construindo um Sistema de Saúde mais Seguro” no ano de 1999, cujo estudo identificou a relação entre eventos adversos e índice de mortalidade anual, à época, com patamares maiores que os causados por acidentes automobilísticos, câncer de mama e AIDS, por exemplo. Sendo que, em 2004, teve-se o lançamento pela Organização Mundial de Saúde do programa “Aliança Mundial para Segurança do Paciente”. Fatos que desencadearam a projeção e “o reconhecimento da segurança do paciente como necessidade e garantia da qualidade do atendimento” e, em “2013, o Ministério da Saúde e Anvisa lançam o Programa Nacional de Segurança do Paciente”, com o intuito de diminuir a ocorrência de eventos adversos em saúde, afirmando-se serem altas, contudo, em sua maioria,evitáveis.
Segundo Pedreira et al. (2013, p.430), entende-se por evento adverso “lesão não intencional que resultou em incapacidade temporária ou permanente e/ou prolongamento do tempo de permanência ou morte como consequência do cuidado prestado”. As constatações são temerárias, principalmente quando se parte do pressuposto de que são erros evitáveis. A incidência em idosos é verificada em diversos pontos da revisão sistemática quantitativa desses autores, supracitados, uma vez que identificaram eventos adversos que “resultaram em lesões permanentes ou contribuíram para o óbito” citando como exemplo, os ocorridos na Suécia, em sua maioria, com pessoas acima de 65 anos; na Colômbia, em pacientes hospitalizados, sendo preponderante nos idosos; bem como a incidência, no Canadá, com predomínio na população idosa. Nesse mesmo contexto da referida pesquisa, evidenciam que no caso dos Estados Unidos, em relação aos eventos adversos (EA), contatou-se que “a idade de risco para EA foi acima de 62.1 anos, com elevação do risco após 76.3 anos”. Esses estudos, segundo Pedreira et al. (2013, p.430) foram realizados também em unidades de terapia intensiva e ratificaram a incidência em determinada faixa etária, com predomínio na população acima de 61 anos, “correspondendo a 77, 7% dos pacientes envolvidos na pesquisa”, revelaram que esses eventos adversos não só culminaram em incapacidades, mas também em óbitos.
Conforme autores supracitados, o envelhecimento da população, tanto no Brasil quanto nos demais países da América Latina, ocorre de maneira vertiginosa e com insuficiência de recursos “humanos e materiais” para tal demanda. Afirmam que, no ano de “2025, haverá no mundo aproximadamente 1,2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos e, até 2050, 2 bilhões, sendo que 80% nos países em desenvolvimento”. Destacam, na conjuntura referenciada acima, que esse crescimento vertiginoso está aliado a outros fatores e que os idosos necessitam de atenção peculiar em função das inúmeras mudanças em seu organismo, como a baixa imunidade, que aumenta a incidência de doenças. De acordo com Pedreira et al. (2013, p.430), diante de “um processo agudo de doença ou estresse, geralmente o idoso tem menor capacidade fisiológica de superar as lesões, tornando-se mais vulnerável e frágil”. Além disso, nos dizeres de Pedreira et al. (2013, p.432) foram constatados “erro com medicação, polifarmácia em idosos e associação com quedas, prescrição de medicamentos inapropriados” e destacadas “interações medicamentosas com uso de fármacos contraindicados e potencialmente perigosos”, pois se identificou a ocorrência de “bradicardia, hipotensão, retenção urinária e síndrome de desconforto respiratório agudo”, falhas até mesmo na administração de medicamentos. A pesquisa revelou estudos em regiões importantes do Brasil, como Sudeste, Nordeste e Sul. De acordo com Pedreira et al. (2013, p.433), a região Sudeste “possui o maior número de idosos no Brasil, com destaque para o Estado de São Paulo”. Oportuno mencionar que, segundo Pedreira et al. (2013, p.434), também constatou a prevalência de eventos adversos relacionados à medicação, tendo inúmeras causas em sua origem, como falhas comunicacionais, na preparação, nos rótulos, etc.
Verifica-se a necessidade de maior vigilância na assistência aos idosos, pois, em função das próprias alterações fisiológicas, como o processo natural do envelhecimento, observa-se, conforme Pedreira et al. (2013, p.434), um “declínio das funções hepáticas e renal”, fatores que potencializam os riscos com medicação no ambiente de cuidados em saúde.
Nesses ambientes de cuidados em saúde, é possível constatar a incidência de iatrogenias. Conforme Santos e Ceolim (2009, p.811), “iatrogenia provém do grego e se refere a qualquer alteração patológica provocada no paciente pela prática dos profissionais da saúde, seja ela certa ou errada, justificada ou não, mas da qual resultam consequências prejudiciais para a saúde do paciente”. Relatam, ainda, que a sua gênese pode estar relacionada à inúmeros fatores, dentre os quais citam jornadas de trabalho exaustivas, desatenção, o próprio cansaço inerente à profissão, “negligência, imprudência, dificuldades para entender prescrições”. Afirmam, no contexto supracitado, que as que envolvem medicação são as mais comuns no âmbito da enfermagem, destacando-se: “omissão de doses, administração em concentração incorreta, aplicação em horários e vias impróprios, administração de medicamentos em pacientes trocados”. E não finda por aí, pois verifica-se, nos dizeres de Santos e Ceolim(2009, p.811), a “aplicação de fármacos errados, decorrente de substituições indevidas ou de dúvidas na transcrição ou na interpretação da prescrição médica”, sem contar que a cultura punitiva das instituições obsta a transparência das notificações desses eventos, que impacta no índice de erros, uma vez que não relatam a realidade. Diante da subnotificação, constata-se a falta de parâmetros para a busca de ações educativas para os colaboradores para diminuição desses eventos, segurança e qualidade na prestação dos serviços.
De acordo com Santos e Ceolim (2009, p.812), o resultado de suas pesquisas constatou que “a idade dos pacientes variou de 61,6 a 98,3 anos (72,0 ± 7,7 anos, mediana 70,8) e o tempo médio de internação foi de 8,9 (± 12,7) dias, mediana de 5,0 dias, variando entre um e 92 dias”, sendo que o estudo contemplou a faixa etária variável de 61,6 a 98,3 anos, entre mulheres e homens e tempo médio de internação, conforme objetivo da pesquisa, e trouxe dados alarmantes e reflexões pertinentes, sendo que os prontuários analisados não continham detalhes sobre as espécies de iatrogenias ocorridas, em função dos aspectos já abordados anteriormente. “Em 100% dos prontuários, não foram relatadas medidas para a prevenção das iatrogenias de enfermagem ocorridas”, conforme Santos e Ceolim (2009, p.813). Considerações bastante delicadas, uma vez que, o estudo referenciado por Santos e Ceolim (2009, p.811), afirma que os idosos merecem olhar peculiar e não podem ser tratados “como qualquer outro paciente adulto, sem que se leve em consideração a singularidade do processo de senescência e de senilidade”, o que demonstra a necessidade de maior conscientização e compromete a busca por soluções adequadas. Ainda, pontuam que a preponderância dos eventos iatrogênicos na população idosa tende a se elevar, visto que “estas pessoas não estão recebendo um tratamento caracterizado para a sua idade” e, portanto, estão mais propensas aos erros dos profissionais da saúde, bem como constatam, no contexto supracitado, a inexistência de “enfermaria exclusiva para o atendimento aos pacientes idosos”. Ressalta-se, que o estudo dessas ilustres autoras,destacou as iatrogenias mais frequentes, sendo a “administração de medicação por via incorreta”, uma delas, não sendo observada sua incidência corriqueira nos prontuários selecionados, mesmo sendo considerado um evento frequente, o que reforça a ideia de subnotificação.
Infelizmente, a falta de notificações precisas em função de culturas punitivas agrava e mascara a problemática, o que compromete a identificação da frequência das falhas para uma gestão eficaz e a segurança do paciente. Conforme Santos e Ceolim(2009, p.816) as anotações sobre eventos iatrogênicos nos prontuários careciam de detalhes e havia “várias imprecisões e lacunas”, não identificavam o profissional que cometeu as falhas e, por isso, estaria inserido na ocorrência; e apenas 34,6% relataram as medidas que foram implementadas para o seu tratamento. Outro fator alarmante é que todos os prontuários foram omissos em relação às medidas preventivas para se evitar novas incidências.
Verificou-se que a cultura punitiva não valoriza a educação e os treinamentos dos profissionais da saúde. As medidas apontadas, por Santos e Ceolim (2009, p.817),para reverter o quadro caótico foram: “oferecer cursos que reforcem as técnicas corretas e protocolos que evitem iatrogenias”, evitando-se também as falhas no que tange àssubnotificações; “criação de enfermaria voltada para o público idoso, para oferecer-lhe cuidados específicos”, uma vez que seu organismo demanda tratamento específico com resposta diversa, que não se compara ao organismo de um adulto; e a necessidade de equipes treinadas, pois “se a equipe não for treinada para atender esse público a sua resposta de seu organismo, iatrogenias podem ocorrer”.
Evidencia-se que, mesmo com direitos afirmados em leis e normativas, que balizam os cuidados em saúde, os idosos ainda se encontram em situação de extrema vulnerabilidade, não só por questões técnicas e fisiológicas, mas, sobretudo, pela falta de conscientização da importância de cuidados mais centrados e aprimorados no contexto da saúde.
Sendo oportuno, destacar aspectos identificados a partir de estudo transversal, cujos dados foram pautados em “revisão retrospectiva dos prontuários de idosos” atendidos por médico geriatra, no qual se buscou analisar o “perfil farmacoterapêutico dos idosos atendidos em um Centro de Referência em Atenção à Saúde da Pessoa Idosa quanto ao uso de medicamentos potencialmente inapropriados”, segundo Aires et al.(2020, p.1). Segundo referidos autores, a polimedicação é inerente à própria condição de envelhecer, pois tal fato implica no aparecimento de várias enfermidades, sendo que,“a utilização de medicamentos constitui uma das principais condutas terapêuticas para o controle das doenças e melhoria da expectativa e da qualidade de vida dos idosos”,Aires et al. (2020, p.2).
A pesquisa referenciada acima obteve os seguintes dados: “Nos Estados Unidos, em 2015, cerca de 90% dos idosos com mais de 65 anos utilizavam ao menos um medicamento”, enquanto, no Brasil, “em 2015, a prevalência de uso de mais de cinco medicamentos por idosos na atenção primária, caracterizando polifarmácia, foi de 18,1%”. Essa realidade exige maior cautela na prescrição dos fármacos, que deve ser a mais racional possível, uma vez que se trata de público com alterações fisiológicas em decorrência natural do processo de envelhecimento, que implica, nos dizeres de Aires et al. (2020, p.2), “a propensão de problemas relacionados a medicamentos”, bem como “danos associados, como confusão mental, quedas e declínio funcional”, ainda alertamque os problemas relacionados à medicamentos em idosos “podem estar associados ao uso de Medicamentos Potencialmente Inapropriados (MPI), medicamentos para os quais o risco de ocorrência de eventos adversos supera os benefícios que podem oferecer”, mas salientam que não se trata de uma única definição, pois o medicamento também pode ser inapropriado “quando utilizado em doses excessivas ou por tempo prolongado, em combinação com outros medicamentos, quando ocorre duplicação de classes terapêuticas, interações fármaco-doença e subprescrição”. De acordo com Aires et al. (2020, p.3), critérios específicos foram utilizados para que o medicamento se enquadrasse como apropriado ou não, em virtude de ser necessário cautela quanto ao uso de medicamentos potencialmente inapropriados no âmbito da senilidade, citam-se: “critérios implícitos (baseados no julgamento clínico) e explícitos (baseados no uso de critérios definidos)”, mencionam ainda, que: “os Critérios de Beers foi a primeira lista lançada e, juntamente com o Screening Tool of Older Persons’ Potentially InappropriatePrescriptions (STOPP) constituem as ferramentas mais referenciadas”. Importa mencionar, que segundo Aires et al. (2020, p.3), em nosso país há “o Consenso Brasileiro de Medicamentos Potencialmente Inapropriado para Idosos (CBMPI), desenvolvido com base nos critérios de Beers e STOPP”, uma maneira de se alcançar um instrumento hábil “que refletisse a realidade das prescrições” no Brasil.
Aires et al. (2020, p.9), salientam que, a depender do critério utilizado, 84,4%, 66,8% ou 56,9% dos idosos faziam uso de ao menos um medicamento potencialmente inapropriado. Destacam, que tais medicamentos podem ser incluídos na terapêutica dos idosos, porém há de utilizar critérios que ponderem os riscos e os benefícios, sendo necessário monitoramento, o que, na prática, não é comum, principalmente no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), o que demandaria maiores explanações não objeto do presente trabalho. Importa saber, conforme contexto referenciado acima, que “um dos grandes desafios acerca destes medicamentos é a forma como são prescritos, sendo necessário maior atenção na avaliação de riscos e benefícios quando não podem ser evitados”, somente assim haverá segurança quanto ao seu uso. Citam-se como inapropriados omeprazol, quetiapina e escitalopram, por exemplo, inclusos na classe dos “inibidores da bomba de prótons (IBP), antipsicóticos atípicos e antidepressivos (inibidores seletivos da receptação de serotonina-ISRS), respectivamente”. E advertemserem inapropriados em função das consequências que podem resultar do seu uso prolongado. Nesse mesmo ínterim, também citam: “o uso prolongado de IBP provoca e potencializa quadros de osteoporose, fraturas, insuficiência renal, risco de infecção porClostridium difficile e deficiência de vitaminas e minerais”, o que deve ser verificado no contexto da revisão desses mesmos autores, em virtude de critérios específicos e padrões de pesquisas para tal fim. Destacam que, embora já não mais presente a doençaou o quadro que levou à indicação do medicamento, verifica-se o uso pelo paciente idoso como um dos motivos para o uso prolongado, bem como a falta de “educação dos profissionais de saúde a respeito do uso prolongado de IPB em idosos”, conforme Aires et al. (2020, p.10).
Os autores, supratranscritos, também enfatizam peculiaridades quando é feita a prescrição de medicamentos para idosos com quadro de demência, em virtude ou não de Alzheimer, por exemplo, pois, a depender dos critérios abordados, “aumentam os riscos de acidente vascular cerebral (AVC), podendo agravar também quadros de constipação crônica e, ainda, por apresentar potencial para causar ataxia da marcha, parkinsonismo, hipotensão e quedas”. Também abordam circunstâncias nas quais a prescrição envolve outros medicamentos. Aires et al. (2020, p.11), concluíram que “ao menos um MPI foi prescrito para aproximadamente 90% dos idosos, 86% estavam em regimes terapêuticos com cinco ou mais medicamentos e cerca de 60% tinham prescrito terapias de alta complexidade”, com preponderante polifarmácia, propondo melhorias no que se refere às estratégias para uma maior atenção a esses idosos, que merecem uma atenção voltada para se compreender o seu metabolismo, o que demanda, segundo Aires et al. (2020, p.12), “acompanhamento efetivo do idoso, com a finalidade de diminuir os eventos adversos que tais medicamentos possam causar, além de estimular a desprescrição nesse grupo populacional”, tal como, ações que demandam equipe multidisciplinar, com a presença “de um farmacêutico clínico capacitado na revisão dos medicamentos e especializado em gerontologia. Além disso, intervenções educacionais direcionadas aos prescritores” são importante fator para prescrições mais adequadas para fins de segurança do paciente.
Segundo Farias et al. (2021, p.1782), “O processo de senescência do organismo altera as respostas farmacocinéticas e farmacodinâmicas aos medicamentos, podendo ocorrer a potencialização do efeito e de reações adversas”, fatores que vislumbram a importância da temática proposta, sendo de extrema relevância abordar a segurança da utilização de medicamentos no cuidado e na assistência aos idosos, principalmente em relação aos potencialmente inadequados. Os autores, acima aludidos, trazem importante constatação, no que se refere ao uso de tais medicamentos, alertando serem “fármacos em que os riscos superam os benefícios de sua utilização quando há opções terapêuticas com evidência científica equivalente mais segura”.
O que se vislumbra, na prática, é a falta do dever informacional, inclusive com desfechos judiciais. Não cabe ao paciente saber das implicações terapêuticas decorrentes do uso de certos medicamentos, mas compete ao profissional da saúde que os prescrevem alertar sobre os riscos e os benefícios, em notável condição de superioridade no quesito do saber técnico em oposição às vulnerabilidades físicas, econômicas e técnicas do paciente.
Farias et al. (2021, p.1782) destaca que esses medicamentos potencialmente inapropriados possuem forte relação com “reações adversas a medicamentos (delirium, sedação, hemorragias gastrintestinais, quedas, fraturas), internação hospitalar e maior morbimortalidade entre os idosos”. Também alertam, que identificá-los é uma importante ferramenta estratégica, pois pode prevenir falhas na assistência aos idosos e minorar reações adversas, aspectos salutares para uma melhor qualidade de vida.
Os autores, supracitados, chamam à atenção para discussões importantes, que influenciam na prescrição de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos,como a inexpressiva participação dos idosos em estudos clínicos, com repercussão negativa para avaliar a eficiência e a segurança dos medicamentos a eles prescritos, “agravada por um importante fator que é cultural, de que cada consulta médica “deve resultar” na prescrição de medicamentos em detrimento da promoção da saúde e prevenção de doenças, o que favorece o uso de vários medicamentos”, segundo Farias et al. (2021, p.1789). Ainda evidenciam, o uso de medicamentos, prescritos em determinados contextos, e o seu uso contínuo, mesmo após cessadas as causas que incidiram em sua prescrição, sem retornos e acompanhamentos em um quadro de constantes alterações fisiológicas e “a denominada ‘cascata iatrogênica’, em que se utiliza um medicamento para tratar um efeito adverso causado por outro em uso”.
Conforme Farias et al. (2021, p.1789-1790), identifica-se a escassez de profissionais com competências para abordagens terapêuticas em idosos. Em virtude de todo o exposto, a pesquisa desses autores, sugere mais estudos sobre eventos adversos com base na utilização de medicamentos potencialmente inapropriados, com intervenções que almejem reduzir o uso, a capacitação dos colaboradores da saúde com competências prescricionais e o acompanhamento efetivo dos idosos, como forma de prevenção e de segurança.
Segundo Praxedes et al. (2020, p.3210-3213), através de revisão sistemática,avaliou-se “a prevalência da prescrição de medicamentos potencialmente inapropriados (MPI), segundo os Critérios de Beers, em idosos hospitalizados com ≥65 anos”, com desfechos moderados a graves em sua saúde, tais como fraturas, diarreia e potencial risco de pneumonia, dentre outros. Também destacaram o seleto número de pesquisas sistemáticas em idosos acima de 65 anos e a necessidade de mais estudos e “ensaios clínicos randomizados que utilizem critérios de Beers como medida de qualidade do cuidado hospitalar”, Praxedes et al. (2020, p.3216).
Diante de estudos singulares sobre a temática, as pesquisas mencionadas ao longo de toda a explanação do artigo proposto, evidenciaram o uso de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos, bem como a correlação entre interações medicamentosas, eventos adversos e iatrogenia, com base em critérios específicos, que demonstraram consequências cruciais para saúde deles, as quais vão desde efeitos menos graves até a possibilidade de danos fatais. Aspectos que sinalizam para maiores estudos, acompanhamento dos idosos e redução de terapêuticas nocivas, quando inequívocos os riscos face aos benefícios, culminando na pertinência do tema, que identifica impactos na qualidade e na segurança dos pacientes em delicada faixa etária, de forma a se vislumbrarem soluções e processos de melhorias.
3. NOTAS CONCLUSIVAS
Buscou-se, através de pesquisas sistemáticas, evidenciar a importância da segurança dos medicamentos, com fulcro nos efeitos das prescrições errôneas em idosos. Constatou-se, através de pesquisas pautadas em critérios seletos da área da saúde, alta incidência de prescrições de medicamentos potencialmente inapropriados, bem como eventos adversos e iatrogenias também em virtude da correlação com outros medicamentos, ou seja, intensa polifarmácia entre pacientes senis. Verificou-se o uso prolongado de certos fármacos em virtude da falta de acompanhamento efetivo dos idosos, bem como pela ausência de um olhar peculiar para a condição deles, uma vez que o próprio envelhecimento faz incidir alterações no metabolismo. Apurou-se, que o fato de serem avaliados com parâmetros não específicos para senilidade, acarreta erros que poderiam ser evitados, além da falta de profissionais capacitados para prescrição geriátrica e de treinamentos específicos.
Evidências foram pontuadas, como o sutil número de pesquisas na área e a necessidade de maiores estudos, com o fim de melhorar a qualidade e a segurança da assistência aos idosos. Observou-se sérias consequências do uso inadequado dos medicamentos e suas interações, tais como: diarreia, risco de acidente vascular cerebral,potencialização dos riscos de quedas por alguns e hipotermia, dentre outros. Dessa forma, verificou-se a importância do tema proposto e foram oferecidas sugestões de soluções pontuais para melhorar a qualidade de vida desses pacientes em busca deprescrições o mais seguras possível.
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